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Segredo
Andorinha no fio
escutou um segredo.
Foi à torre da igreja,
cochichou com o sino.
E o sino bem alto:
delém-dem
delém-dem
delém-dem
dem-dem!
Toda cidade
ficou sabendo.
Henriqueta Lisboa
O medo do menino
Que barulho estranho,
vem lá de fora,
vem lá de dentro?!...
Que barulho medonho
no forro,
no porão
na cozinha,
ou na despensa!...
Será fantasma
ou alma penada?
Será bicho furioso
ou barulhinho de anda?
E o menino olha
na escura escada
e não vê nada.
E olha na vidraça
e uma sombra ameaça.
Quem se esconde?
Esconde onde?
Se vem alguém passo a passo
na rua deserta
o medo aumenta.
Passos de gente da casa
escolhe o medo.
Se somem vozes e passos
de gente da casa,
no ato, no quarto,
vem o arrepio.
E o menino escolhe,
tica todo enroladinho.
Se embrulha nas cobertas,
enfia a cabeça no travesseiro
e devagar, devagarinho,
sem segredo,
vem o sono
e some o medo.Elias José
O soluço
- Anda tão devagar
a minha tartaruguinha!
Assim dizia espantada
a curiosa Lili.
Mas o que ela não percebia
é que a tartaruga
de verdade não andava.
O que ela tinha
era soluço:
huc! - uma perna de levantava
hic! - depois descia.
Era o movimento tão lento
tão va-ga-ro-si-nho
que nem parecia soluçar.
Huc - hic! Huc - hic!
Uma tartaruga que anda de soluço
onde é que vai parar? Fernando Paixão
Ida e volta
Para quem vai
relógio faz
tic tac.
Mas para quem vem
(ouça, verifique)
o relógio faz
tac tic.José Paulo Paes
Das alianças desiguais
Gato do mato e leão, conforme o combinado,
juntos caçavam corças no mato.
As corças escaparam... Resultado:
Não escapou o gato.Mário Quintana
Viagem
Quem lê vai em frente
quem escreve vai também.
O poeta segue contente
quando dirige esse trem.
Piuíííííííííí! Piuíííííííííí!
Toca o apito da estação
bem na hora de partit
Lá vai o trem... vamos também...
Você entra, sai e brinca
com as palavras em movimento.
Para. À esquerda. À direita.
Poesia a gente inventa.Fernando Paixão
Mar azul
mar azul marco azul
mar azul marco azul barco azul
mar azul marco azul barco azul arco azul
mar azul marco azul barco azul arco azul ar azulFerreira Gullar
Colégio
Doia a dois
dois a dois.
E a fila
serpentina
escorrega
nas escadas
estica-se
nos corredores
projeta-se
nos pátios.
Só o rumos
tranquilo
dos passos
ritmados.
Do assoalho
batido
como um tambor
sobre poeira
para as narinas
dóceis.
Dois a dois
dois a dois.
A fila parece um barco
elástico
movido por inúmeros
remos.Henriqueta Lisboa
Palavras
Uma tarde entre avencas
junto à fonte um murmurinho
trocavam duas meninas
as primeiras confidências
- Quem me dera
inaugurar a primavera
vestida de borboleta
sobre um campo de flores
para bailar e bailar
a dança das sete cores...
- Quem me dera
ter meu vestido branco
de açucena
para casar
na capela branca de
Santa Marina Serena...
Essas palavras o vento
imaginou que eram nuvens.
Henriqueta Lisboa